Todas as histórias apresentadas aqui são reais, foram gravadas ANTES da pandemia e de autoria dos próprios protagonistas.
“Nós ficamos viajando por 50 dias, quando estávamos chegando em casa, a Vitória começou a chorar, porque não queria descer do caminhão”
Cheila Porazzi Fulber, conhecida na rodagem pelo QRA Cinderela, não teve uma vida de conto de fadas. Junto com a mãe, desde muito nova, arregaçou as mangas e ganhou as estradas do Brasil. Hoje, vê se manifestar em Vitória, sua filha, o mesmo amor pelos caminhões que herdou dos pais.
Vitória e Cheila provando que a fruta não cai longe do pé!
Filha de mãe e pai motoristas, a nossa Cinderela cresceu tendo familiaridade com caminhões. Quando pequena, ao ver o pai e a mãe partirem a cada nova viagem, ela e o irmão, Charles, se penduravam atrás do caminhão, querendo seguir juntos para a estrada.
Aos 18 anos, com o divórcio dos pais, Sueli e Olávio, Cheila assumiu de vez a profissão de caminhoneira, quando passou a ajudar a mãe nas viagens. A rotina era pesada e as contas eram muitas, mas para reequilibrar a condição financeira de sua família, Cheila ampliou a rota que os pais faziam, do Rio Grande do Sul, para o Brasil inteiro. Foram 20 anos rodando pelas estradas do Nordeste.
Trabalhando duro, Cinderela realizou o sonho de comprar o seu próprio caminhão. A vida seguia, desafiadora e cheia de trabalho, mas com muita esperança, ela, a mãe e o irmão seguiam na luta cotidiana.
Porém, uma notícia abalaria novamente a vida de Cheila. Durante uma viagem ao Nordeste, ela recebeu a notícia de que a sua mãe havia passado mal e estava hospitalizada. Chegou ao Rio Grade do Sul apenas em tempo de se despedir, no final do velório de Sueli. O mundo de Cinderela caiu. Naquele momento, ela perdeu não só a mãe, mas a amiga, a primeira companheira de estrada e a sua fonte de inspiração.
Cheila agora, precisava aprender a viver com o luto e cuidar do pai, inválido. Essa realidade a afastou do seu outro grande amor, a estrada. Mas, como todo conto de princesa, não poderia acabar sem um final feliz: tudo mudou para Cinderela, quando ela descobriu que estava grávida de sua filha, Vitória.
Qual foi o impacto da chegada da Vitória em sua vida, naquele momento?
A Vitória foi um sonho que realizei na minha vida. Por muito tempo pensei que não teria a chance de me tornar mãe, pois a minha prioridade eram os meus pais, a prestação do caminhão, trabalho… A rotina da estrada, sempre viajando, também tornava difícil manter um relacionamento. Então, conheci o Mariston!
Nós estávamos namorando há 7 meses quando minha mãe faleceu. Naquele momento, eu tive que largar tudo para cuidar do meu pai e ao mesmo tempo eu estava em péssimo estado emocional causado pelo luto. Ele me ajudou! O Mariston contratou um motorista para dirigir o caminhão dele e foi trabalhar com o meu, enquanto eu reorganizava a minha vida.
Nesse tempo, engravidei da Vitória e foi ela quem salvou minha vida, minhas forças, minha vontade de viver, pois eu estava quase desistindo. Quando soube que estava grávida decidi me dedicar totalmente à minha filha pelo tempo que precisasse, porque talvez, não tivesse outra chance estando já com 37 anos. Dessa forma dei esse tempo somente pra nós duas. Hoje, ela está com 2 anos e 9 meses e nunca desgrudei dela nem por um minuto.
Você acha que a Vitória vai seguir os seus passos?
É a terceira geração, né? Particularmente, eu espero que ela estude, porque essa vida é sofrida. Mas, não dá para saber, a gente tem que deixar que eles façam as suas escolhas. Mas, ela gosta muito, quer porque quer ir viajar.
Você tem planos para voltar a trabalhar na estrada?
Sim, eu sinto muita falta, muita saudade da estrada e pretendo voltar. Porém, agora quero curtir a minha filha. No futuro, pretendo assumir o meu caminhão novamente. Em contrapartida, meu marido quer largar da estrada e trabalhar perto de casa, assim, a Vitória sempre terá um dos pais ao seu lado.