Todas as histórias apresentadas aqui são reais, foram gravadas ANTES da pandemia e de autoria dos próprios protagonistas.
Podia ser mais uma tarde como outra qualquer na loja de sapatos onde Mara trabalhava. Mas uma conversa entre colegas de trabalho, sobre a profissão de caminhoneira, “virou uma chave” na cabeça da moça. Naquele momento ela decidiu: seria motorista de caminhão. Saiu do emprego e com o que recebeu, providenciou a carteira categoria E. No último mês de seguro desemprego a tão sonhada vaga como motorista foi conquistada. Ali começava uma nova carreira para Mara, que hoje já atua na estrada há mais de uma década.
O caminhão trouxe novas experiências e também um grande amor. Foi a profissão compartilhada que aproximou Mara e Wagner assim que se conheceram. Com tantas afinidades, logo eles se tornariam não apenas marido e mulher, mas grandes parceiros de estrada. O casal não poupou esforços e as constantes viagens que os dois faziam, ao invés de afastá-los, os aproximou ainda mais, chegando, inclusive, a trabalharem no mesmo caminhão. Atualmente, os dois fazem a mesma rota, cada um em seu caminhão.
“É muito bom viajarmos juntos, pelo rádio fazemos companhia um ao outro, nunca estamos realmente sozinhos”
Viajando juntos, foram colecionando amigos e histórias, como uma vez em que Mara perdeu a paciência com o atendimento demorado na pesagem e ameaçou descarregar adubo ali mesmo, no chão. Ou quando Wagner, que gosta de pregar peças, foi filmado pela Mara, passando trote em um colega.
Como é para vocês viajarem juntos?
Mara: É muito bom, não tem nem como explicar. Nós vamos conversando pelo rádio, meu marido é muito engraçado e nos divertimos muito. Vamos fazendo companhia um para o outro.
Como as pessoas reagem quando vêem um casal viajando juntos?
Mara: Nós fazemos muitos amigos, mas algumas vezes me incomoda quando nos pátios ou transportadoras alguém vem falar sobre o caminhão e se dirige automaticamente ao Wagner. Ele sempre responde que sobre o meu caminhão, eles devem falar comigo. É machismo, pois acham que por eu ser uma mulher eu não entendo tão bem. Algumas vezes, me observam manobrando o caminhão e correm para oferecer ajuda, mas eu já tenho experiência no volante, estou na profissão há 11 anos, não oferecem a mesma ajuda ao meu marido.
Esses episódios são comuns? O Wagner fica incomodado?
Wagner: Volta e meia acontece. Uma vez a Mara estava manobrando um caminhão internacional bi caçamba, com três caixas. Esse caminhão é difícil de manobrar. Eu estava no pátio observando e tinha alguns outros motoristas ao meu lado. Eles estavam comentando entre si que ela não conseguiria se a direção fosse manual. Quando eu falei que era manual, se espantaram e ficaram em silêncio. A Mara sabe o que está fazendo e dirige melhor do que muitos caminhoneiros homens.
Vocês já pensaram em mudar de profissão?
Mara: Às vezes a profissão é dura, é pesada, às vezes tem apertos. Eu mesma já tive que lavar caminhão cheio de esterco. Mas, eu amo a minha profissão, eu gosto da estrada, não penso em trocar de trabalho. Eu acho importante que cada vez mais as mulheres abracem a profissão de caminhoneira. Porém, não devem se iludir com fotos de Instagram de blogueiras super produzidas ao lado de caminhões lindos. A profissão é ótima, mas tem desafios para quem põe a mão na massa de verdade. Quem acha que é glamoroso, pode se decepcionar.